O KARMA E A BORBOLETA AZUL

Uma pequena reflexão sobre a lei de ação e reação.

Com o progressivo aumento do número de praticantes de Yoga, a palavra karma tem sido usada com uma freqüência cada vez maior. Seu emprego, no entanto, nem sempre tem sido no contexto mais adequa­do. Karma não significa a punição divina ou a suposição de que algo de mal possa vir a acontecer, mas, simplesmente, o resultado de nossas ações. Desta e de outras vidas.

TIPOS DE KARMA

Segundo as escrituras, o karma se divide em três tipos:
I. Sancita-karma: o nosso "estoque" total de karma acumulado.
2. Prarabbda-earma: a porção do karma que trouxemos para viver nesta vida.
3.Vartamana ou agami-karma: o karma que criamos nesta vida, com cada uma de nossas ações.

Para tentar esclarecer o conceito de karma, vou usar um exemplo bem primário que tem ajudado com meus alunos (aos eruditos, peço perdão pela simplificação alegórica de um conceito tão complexo). Imagine que você acabou de deixar seu corpo físico e se encontra na entrada do céu, de frente para o anjo encarregado do seu destino. Ele abre um computador e, à esquerda, na tela, estão listadas as suas "boas" ações acumuladas em todas as suas passagens pelo plano físico e, à direita, as ações avaliadas como "duvidosas". Esta lista seria o seu sancita-karma, o seu estoque total de ações, tanto boas quanto ruins (acredito que "bom" e "ruim" sejam rela­tivos, mas, para efeitos didáticos, empregarei os mesmos). Você diz ao anjo que esta última encarnação foi traumática e que gostaria de "pegar leve" na próxima. E ambos decidem que você voltará à Terra rapidamente para morrer logo em sua primeira semana de vida; retornando àquele plano
para relaxar mais um pouquinho. Em outra versão, após observar a planilha do anjo, você decide: Quer saber? Nesta próxima encarnaçâo, eu não vou a pas­seio, não! Anjo, pode dar um download na coluna da direita que eu "tô podendo"! Vou queimar uma porção de karmas desta vez! Em ambos os casos, o "montante" que você escolheu levar com você para a próxima encarnação é o prarabhda-karma.

E eis que você nasce, mais uma vez. Suas ações estão todas sendo impressas no Universo (o seu var­tamana-earma) e são adicionadas à sua planilha de ações, que é o seu sancita karma. E, assim, seguimos presos à roda do destino. Digamos, então, que, de­pois de muita disciplina, prática e uma boa dose de Graça Divina, você atinja a iluminação. O que acon­tecerá? Os méritos acumulados lhe permitiriam que, uma vez esgotado o prarabhda-karma desta encarna­ção, você estaria liberto das amarras do destino e do ciclo de renascimento e morte. Suas ações não mais gerariam karmas futuros. E, assim, você pode-
. ria escolher entre atuar no mundo como os Grandes Seres que encarnam somente para ajudar a huma­nidade ou repousar em outros planos. De novo, a escolha seria sua!

A BORBOLETA

Para finalizar de forma menos metafísica, vou nar­rar uma parábola de que gosto muito:
Duas meninas estudavam com um grande sábio.
Como ele sempre respondia a tudo sem hesitar, as meninas resolveram testá-lo com uma pergunta à qual ele não conseguisse responder. Uma delas falou:
- Dessa vez o sábio não vai saber a resposta!
- O que você vai fazer? - perguntou a outra.
- Tenho uma borboleta azul em minhas mãos. Vou
perguntar ao sábio se a borboleta está viva ou mor­ta. Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-Ia voar para o céu. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-Ia, esmagá-Ia e, assim, matá-Ia. Qualquer resposta que ele der estará errada!
As duas meninas foram, então, ao encontro do sá­bio e a que levava a borboleta perguntou:
-Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me, sábio, ela está viva ou morta?
Calmamente, o sábio sorriu e respondeu:
- Depende de você, ela está em suas mãos ...

Assim, uma vez mais, não devemos nos esquecer de que somos nós quem construímos nosso des­tino. Nossa vida está em nossas mãos, como uma borboleta azul.

Isabela Fortes, professora de Iyengar Yoga .